segunda-feira, 7 de abril de 2014

8 anos

Esse texto é para ser lido ouvindo essa música.

Eu nunca gostei da cafeteria que você sempre me levava, mas eu ia, ia por que o café da manhã de lá era o seu preferido. 
Você nunca soube que eu tinha um lugar preferido ali – e só era preferido porque era nosso. Que o sol batia levemente no seu rosto e que parecia sempre a primeira vez que eu te via quando o seu rosto se iluminava e você levava o dedo sujo à boca. Que você parecia uma criança feliz e que toda insegurança do mundo ia embora naquele momento.
E nem era nada demais. É só que o mundo com você era mais seguro.
Eu gostava mais dos cinco minutos com você na cama. Dormindo mesmo. A sua mania invasiva de colocar o peso das pernas – e não o do mundo – em cima de mim era reconfortante. “Você nunca vai estar sozinha” era o que o seu corpo me dizia. A respiração pesada e nada ritmada me deixava assustada e eu já passei noites sem dormir pra garantir o seu sono bom.
E nem era nada demais. É que você era meu sonho bom, e eu nem precisava estar dormindo pra isso.
Quando a gente discutiu sobre a minha música favorita dos Beatles,  ou sobre o tamanho da minha  roupa e a cor do seu cabelo naquela idade, eu só sabia discordar. É que você precisava sempre de um contraponto pra argumentar comigo, e me mostrar que a sua inteligência teria me atraído ainda que eu não pudesse ter visto nenhum dos seus sorrisos – o que seria uma pena. Eu te deixava irritado porque, na verdade, eu sou um garota de doze anos num corpo de mlher. O jeito dona de mim era  só disfarce pra não entregar de bandeja que você me desorienta. E que não tem manual de instruções – nem meu, nem seu – que dê jeito nessa desconstrução de rotina gostosa que a gente tem. Ou tinha.
E nem era nada demais. É que com você eu sou eu e mais mil outros eus.
Que era pra te agradar e te contrariar. Pra tentar ser tudo o que você precisava em mil e uma noites. Que os meus melhores textos são sobre você – e que as minhas maiores confissões envolvem o que é nosso e o que ninguém mais sabe. Nem você mesmo. Você nunca soube que eu matava as saudades te guardando em caixas. E que o meu armário é montado com partes do que a gente foi e viveu. Que eu sei o seu cheiro de cor e salteado. Eu sinto de vez em quando no meu quarto. Mesmo que você não esteja lá.
Você nunca soube que eu sempre te trago pro presente. E não há passado que realmente tenha passado e te deixado pra trás. Que a minha linha do tempo só trata de você em modos únicos e imperativos. E que não há pedido ou ordem que tire o seu lugar suspenso do tempo na minha história. Que eu te resgato em tudo: desde as fotos aos cheiros. Desde as cartas que eu escrevo, empilho e não envio. Desde os sorrisos repuxados pelos cantos, espaçados no acaso, que são mais involuntários do que aquilo que eu sinto por você. E cada sensação minha tem um pouco de você. É que você sempre me deu nó.
Um dia você me perguntou “como vão falar de amor sem mencionar nós dois?”. E me disse que eu nunca chegaria a uma definição exata – nem parcial – de definição alguma.
O que você nunca soube é que eu escrevi essa carta pra falar de amor. E acabei não achando um jeito melhor do que falando de nós.

eu sinto tanto a sua falta Lu! 

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