quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Em terceira pessoa.

Ela não se esquece de deixar claro o quanto é fácil passar por cima de mim. Basta que as luzes se apaguem, o álcool faça efeito, um mínimo de espaço e ela revela sua existência ridícula. Fala demais, essa menina que não tem o que dizer. Ri demais e acha graça de tudo. É muito agradável, e você quer tê-la, mas tem algo de agressivo, algo que te faz sentir mal. Por que ela não fala o nome inteiro? Por que ela some e sai andando entre as pessoas cada vez que você se distrai? Por que falar de astrologia se ninguém acredita mesmo? Por que perder o mistério, se ninguém quer realmente saber sobre sua ideologia barata de gente sem futuro? Sou só um amontoado de ideias perdidas que ela revela sem me pedir licença e depois fica achando bonita minha contradição quando amanhece.

Ela é ótima na arte de acumular pessoas, no sentido da palavra. Não conquista, não agrada, acumula. Chega sozinha, vai embora sozinha, mas gasta um repertório inteiro de palavras e se despede de todos os semi-conhecidos da noite. Alguém vê através disso? Talvez essa busca seja o único motivo pra eu ainda deixar acontecer. Tinha me acostumado a ser cenário e quando ganho personagem, acho pedir demais escolher o que interpretar. Que venha qualquer coisa fútil alegrar meu figurino, que seja brilhante, que seja inesquecível, mesmo que seja feio. Essa menina é mesmo um sopro de qualquer coisa doce e enjoativa com o pior dos venenos, fazendo com que minha presença seja ao mesmo tempo marcante, confusa, passageira e duvidosa. É como conhecer todo mundo e não conhecer ninguém. Pior: é como se todo mundo me conhecesse e ninguém realmente quisesse saber de mim. Só dessa louca que sai por aí sendo tudo ao mesmo tempo e nada, pra finalizar.

Ninguém desconfia do que resta pela manhã e é melhor assim. Uma espécie de proteção, como se essa superficialidade fosse só um ensaio do que um dia vou ter coragem de moldar. E a única dúvida que resta não é qual das duas eu realmente sou, mas qual de nós é realmente importante. E quem vai me restar se eu escolher uma só para viver.


Inspirado por Luziano :) 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Me arrependi de você". Foi há algum tempo que ele me falou isso. Ele não olhou nos meus olhos, e por isso não viu que as palavras dele fizeram dos meus olhos uma janela emoldurando a chuva. Me doeu da unha aos ossos, pelos, cabelos. Me doeu o peito. Eu me vi atravessando a cidade e me perdendo em ruas escuras às três da manhã em direção a casa dele. Me vi na casa dele, tentando disfarçar o meu medo daquilo tudo e ouvindo ele corrigir o que eu dizia, porque eu dizia muita bobagem. Eu me vi chorando na volta, cheia de álcool no sangue, entrando em todas as ruas do país antes de descobrir que eu estava na direção contrária da minha casa. Eu me vi chorando em casa, no banho, limpando o choro. Eu vi a quantidade de vezes que eu atravessei a cidade, que eu me enfiei no peito dele, na cozinha da casa dele, no mundo dele. Eu sempre fui sozinha e já havia dito a ele que tenho uma espécie de pacto com a solidão. Ele talvez não entendeu, talvez deixou passar, talvez esqueceu. Não me importa, ele me disse que se arrependeu.