terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Me arrependi de você". Foi há algum tempo que ele me falou isso. Ele não olhou nos meus olhos, e por isso não viu que as palavras dele fizeram dos meus olhos uma janela emoldurando a chuva. Me doeu da unha aos ossos, pelos, cabelos. Me doeu o peito. Eu me vi atravessando a cidade e me perdendo em ruas escuras às três da manhã em direção a casa dele. Me vi na casa dele, tentando disfarçar o meu medo daquilo tudo e ouvindo ele corrigir o que eu dizia, porque eu dizia muita bobagem. Eu me vi chorando na volta, cheia de álcool no sangue, entrando em todas as ruas do país antes de descobrir que eu estava na direção contrária da minha casa. Eu me vi chorando em casa, no banho, limpando o choro. Eu vi a quantidade de vezes que eu atravessei a cidade, que eu me enfiei no peito dele, na cozinha da casa dele, no mundo dele. Eu sempre fui sozinha e já havia dito a ele que tenho uma espécie de pacto com a solidão. Ele talvez não entendeu, talvez deixou passar, talvez esqueceu. Não me importa, ele me disse que se arrependeu.

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