quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Não que eu tivesse medo da solidão, ou algo parecido, mas depois de termos dividido inúmeras madrugadas, na última terça sem ele, aquilo bateu feio, tipo pedrada na cabeça, e eu não conseguia não pensar no que ele estaria fazendo, naquele momento, em que, pensava nele.
Devia estar fazendo qualquer coisa de ordinário, dormindo, lendo algum livro merda, ou nos piores dos casos, vendo leilão de boi na TV, mas certamente, seja lá o que estivesse fazendo, não pensava em mim.
Me controlava para não pegar o telefone e num impulso besta, ligar sem dó alguma do seu sono. De certo que me acharia uma louca, oquê, são duas da manhã, e todo aquele teatro de pessoa equilibrada que por noites eu fingia ser, iriam por água abaixo.
O que vamos concordar, é mesmo coisa de louca. Mas eu vivia bem na minha loucura, era feliz assim, e enquanto eu fantasiava com situações inexistentes que eu apertava bem forte os olhos e desejava que acontecessem, uma vida me esperava por trás do vidro, e ela acontecia sem mim. Por baixo da chuva, do sol e da areia, pessoas passavam, conversavam, faziam juras que nunca conseguiriam cumprir, nasciam e morriam, mas eu não saía daquele sofá.
Pensava em fazer a minha melhor cara de coitada e chorar até ficar sem lágrimas, mas ele não me era importante o suficiente para isso.
Ele não era meu salvador, não era um amor, nem quem eu esperei a vida inteira, nem ele, nem porra nenhuma de qualquer outro homem.
Ele era um motivo para eu afundar a cabeça em paranóias infinitas e sofrer como se nunca tivessem me feito sofrer antes, era a minha desculpa para a minha vida lá fora, de que eu definitivamente era uma pobrezinha merecedora de cafuné e chá quente enquanto me lamentava para as amigas.
E sim, uma louca. Uma louca que usava a dor como combustível de sua existência.
E quantas lembranças eu já colecionava, para fazê-lo alguém com o mínimo de relacionamento possível, simplesmente, para mim, existir.
Que por mais que ele sempre estivesse fazendo presença lá, era agora que ele existia. Ele fazia parte dos meus pensamentos e se antes eu cagava para se ele estava vivo ou não, agora eu vivia em função disso. Eu comia para alimentá-lo, eu dormia para descansá-lo. Se num acesso de sadismo, ele me pedisse para ajoelhar no chão e latir, era isso o que eu faria.
E se por algum motivo, alguém sem o menor entendimento da minha forma de ser, me criticasse, eu levantaria e socaria na boca, por Deus, isso não é justo, porque na minha loucura incabível, não havia espaço para racionalidades.

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